quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Sobre Icaraí

Com certeza escrever uma crônica sobre Icaraí, estando em Icaraí, não é uma boa ideia. Porque estando aqui é difícil ignorar sua essência completamente nojenta e elitista, que transcende questões meramente econômicas. As pessoas daqui não são ricas, mas se acham como tal. O que em nosso país costumam confundir como se fossem a mesma coisa. Suas esquinas dão ânsia de vômito, são um mix revoltante de jóias de 20 mil reais e sem tetos nas calçadas, mas isso em si nem é uma novidade, é assim que as coisas são nesse velho país. 

A pergunta que fica é o porquê vir a Icaraí. Porque, bem, a praia é com certeza a mais bonita de todas. Acredito que não tenha comparação, não existe outra mais bonita. O Campo de São Bento é um lugar extremamente acolhedor e tem de tudo aqui, teatro, cinema e cafeterias. As ruas, construções, todo o modo como o bairro é organizado, parece até uma cidade de verdade. Isso é algo dúbio, porque me gera revolta, por que só aqui? É por que tão pouco? 

Ficamos brigando entre nós e não conseguimos ver que se essas pessoas são tão mesquinhas e que se são tantas, o problema não é individual, é social, é do sistema. Por muito tempo direcionei minha raiva aos indivíduos desse lugar e materializei isso ao bairro, que é somente uma convenção geográfica, nem existe no mundo real. Havia tanta raiva, tanta revolta e só agora compreendo para onde devo apontar. 

Ainda não gosto de vir a Icaraí, mas agora tudo é diferente. A verdade liberta de fato, de todas as ilusões e mesquinharias. 


Niterói, 2022