Ainda tenho medo da Ponte Rio-Niterói
O vão-central é tão alto,
os aviões sempre perto e a água,
parece fria todas as vezes
Fria como essas noites
Tenho pensando nas mentiras todas os dias,
Porque tem palavras que o vento não leva,
Palavras que rasgam,
que insistem em fazer eco
Também tenho medo do túnel,
da Roberto Silveira,
da Francisco Nunes da Cruz
Niterói depois da São Lourenço,
é só assombro, é só solidão, só opressão
Todas as vezes que fecho os olhos,
é a bicicleta que escuto implorando,
pedindo para que eu chegue logo,
Mas nunca chegarei a tempo
Pois ainda tenho medo de descer o Cantagalo,
tenho medo de me desorientar no Cafubá,
de encontrar o caminho do mar,
e nunca mais voltar
São Gonçalo, 2021