É verdade, detesto muitas coisas. Entrei naquela sala, naquele dia, e tudo que senti foi um medo e ódio profundo. Medo de estar voando muito longe, onde meus pés não podem tocar, medo de estar sendo jogado aos lobos sozinhos e tudo que vi naquela tarde quente foram lobos. Dentre tantos rostos, tantas pessoas com suas histórias e construções sociais, a vi. No primeiro momento, pensei: ‘’se ela fosse do meu mundo, eu me apaixonaria’’.
Para ser sincero, não foi isso, mas gosto de pensar que foi. Porque não demorou muito pra esse sentimento tomar conta de mim durante semanas e só hoje consigo perceber que foi isso mesmo. E eu odiava, odiava o fato de não concordar em nada com ela, de tudo que saia de sua boca me impactar tanto sem ter sido a intenção. Bastou um mínimo aceno e lá estávamos, de repente, depois de meses entrando em colisão, conversando todos os dias. Ela era do meu mundo, afinal de contas, não era uma inimiga.
No meio do pandemônio, tudo floresceu. Enquanto tudo estava obscuro e terrivelmente triste, nossa relação era azul, amarelo e verde. Passamos juntos pela estação das brumas e tudo que eu senti foi uma vontade assustadora de guardá-la dentro de meu coração com todas as minhas forças e não deixá-la ir embora nunca de minha vida.
Nossas tardes foram tão fortes que sempre pareciam durar muito mais do que de fato duravam, só valiam os sorrisos, os olhares, a nossa química implacável e as nossas pequenas aventuras. Aquelas fugas em meio ao caos marcaram tanto, que até hoje sonho com elas, aquelas horas de paz com certeza ficaram marcadas na minha memória. Os olhos dela sempre tão profundos me atormentaram por tantas semanas, que até hoje me intimido com eles. Aquele rosto tão insuportavelmente bonito, o jeito de falar que sempre me transmitiam uma vontade desesperada de querer escutar mais, de querer chegar cada vez mais perto dela, me levaram a sentimentos tão fortes que não era possível ignorar. A fascinação por alguém é algo que não podemos escolher ou controlar no final de contas, se apaixonar é se desesperar e me desesperei.
É difícil estar crescendo pois tudo sempre parece estar mudando, o tempo todo acontecem tantas reviravoltas e a maior parte delas simplesmente não levam a lugar algum, dói bastante não conseguir corresponder às mais torpes e pequenas expectativas que nos são imposta, pelos os outros e por nós mesmos. A magia que senti dentro do meu coração, todo aquele sentimento tão pulsante, no final de contas pareceu ser algo somente individual, metafísico, idealista. Sonhei em adentrar ao infinito, todavia esqueci que o trecho Niterói-Manilha da BR-101 Sul termina em Niterói, na saída 322.
Me perdi em meus anseios, em meus próprios sentimentos e nessa crônica. Eu odeio, eu odeio escrever, porque por mais que eu queira, palavras não mudam nada e o vento as espalha tanto que por muitas vezes elas voltam e me despedaçam com ainda mais força.
Niterói, 2021