domingo, 15 de agosto de 2021

Sobre o Nosso Amor

 Sempre estive errado, desde o primeiro dia. É difícil, mas a verdade é essa. Olhei para você certo dia, certa vez, e foi inevitável, foi imprudente. Entre diversos dias ensolarados, sorrisos, palavras doces e debates lacrimosos, as coisas foram ficando cada vez mais perigosas e cada vez maiores. O que é amar, se não se entregar? De certo modo, fui me entregando aos poucos sem nem perceber. Era só escutar sua voz falando sobre qualquer coisa, era só olhar seus imensos olhos, seu sorriso, não bastava muito para desvanecer cada vez mais em você. Era evidente que os nossos dias sempre eram os melhores dias, que não havia outro lugar melhor para estar e fui sentindo você cada vez mais perto.


Certo dia pelas baixadas litorâneas, estávamos admirando o pôr do sol e me senti tão feliz, era como se todos meus atrasos e pesos tivessem sumido por um instante. Quando olhei para você, que me olhava de forma tão profunda, parecia que finalmente alguém me amava também. Todas nossas histórias haviam de alguma forma, sido reais, vivas e do fundo do meu coração queria que aquele momento nunca acabasse, mas acabou. As coisas estavam muito explosivas e você optou por não se queimar. Quando escolheu seguir em frente, descendo o Eufrates, fugindo pelo Golfo Pérsico, foi como se alguém tivesse atirado tão forte em meu coração que eu não conseguia respirar. Passei tantas semanas com um gosto tão amargo na boca, chorando desesperado feito uma criança, resignificando em mente minha mente que o erro foi meu, desde o primeiro dia. E foi, de fato.


Mesmo desesperado, compreendi seus medos e sua fuga, não a contestei e até hoje não contesto. Nosso amor nunca foi comum, nunca foi convencional e seria impossível ser, pois não somos comuns, nem convencionais, vivemos nossas novas vidas buscando se livrar do velho em nossos corações, deixando para trás tudo que é ultrapassado. Sinto todos os dias sua falta, pois entre todas as coisas do mundo, a única que não posso ter é o nosso amor. Mesmo buscando-o entre o nosso céu azul do Leste Fluminense, ele sempre foge de mim e por muitas vezes parece que nunca vou conseguir alcançá-lo.


São Gonçalo, 2021 


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A Luta pela Vida

 Há quem queira pular carnaval em cima dos corpos vitimados, tem quem prefira micareta à luta contra o velho Estado. Não tem covid que amanse, a sede de sangue dos velhos vampiros das classes dominantes. Eles tem sugado tudo do povo ainda mais nesses tempos de pandemia, deixando só os ossos para os mais pobres. A rua tem começado a aparecer, a falar, em breve o fogo vai tomar conta e os blocos carnavalescos vão novamente se esconder como ratos covardes. Escoltados pela pelos assassinos fardados, irão voltar para suas campanhas eleitorais on-line eleger seus exploradores de estimação. Enquanto o povo continuará lutando por sua existência com unhas e dentes, independente da cor da prefeitura.  


São Gonçalo, 2021


Cravos Sangrentos de Primavera

 É difícil começar um poema

ainda mais quando se tem tanto para falar, 

quando a cabeça está pulsando tanto, que dói

A vontade que bate é de gritar,

tentar soltar tudo de uma vez

Mas o papel é sempre binário,

sempre preto no branco, nada mais,

e minha mente tem tantas cores


Tem sido um tempo de pensamentos dispersos,

de desejos distantes,

um tempo de flores de primavera,

e espinhos sangrentos. 


São Gonçalo, 2021







Entre o Tigre e o Eufrates

 "Mesopotâmia'' significa "entre rios", a histórica cidade tinha esse nome pois ficava entre o Rio Tigre e o Rio Eufrates. Entre dois rumos distintos prosperou. Mesmo em meio a uma encruzilhada, sempre souberam para onde apontar. 

Queria poder dizer o mesmo sobre meus sentimentos, pois muitas vezes parece que as encruzilhadas em que me coloco, cada vez mais se abrem em novas direções. 

Muitas vezes é difícil dizer o que se passa pela minha mente, o que sinto dentro dos meus pensamentos e vontades. É tanta informação, tanta dispersão, que no final das contas meu coração é somente um emaranhado de impulsos soltos e completamente desprovidos de qualquer direção. 

Eu não sei, não sei se todos eles convergem em uma direção única, ou se essa direção única em algum momento se divide em tantas outras direções. O que sei, de fato, é que eu não acredito que alguma dessas direções me leve ao pôr do sol, ao final feliz, mas todas elas poderiam. 

Sou apaixonado e é real, todas as direções são reais, eu não minto, só muitas vezes sinto demais. No fundo eu sei qual foi a primeira direção, entre todas as direções, caminhei por algum tempo e simplesmente não cheguei ao final. Tentei um novo caminho, novamente, não deu certo.

Tenho certeza que este relato literário está confuso, confuso como meu coração, que só sabe amar e sofrer em busca de alguma direção. 

- São Gonçalo, 2021