Eu conheço todos os buracos entre São Gonçalo e Niterói, talvez conheça até mesmo todas as pedras do asfalto e mesmo assim não tem uma vez se quer que não fique impressionado com o fim de tarde da Baía de Guanabara. É como se eu me sentisse parte daquilo, como se de algum modo aquilo tudo também me pertencesse e na realidade, pertence, pertence a todos nós.
Toda vez que subo na minha bicicleta em busca do meu futuro, em nome da luta por mundo diferente, é como se tudo aqui fosse cada vez mais parte de mim. A cada pequena vitória, a cada pequena luta, tudo avança e se transforma. Alguns porcos insistem em querer nos tirar tudo, até mesmo nossa cidade, nossa identidade, além da nossa dignidade. Temos visto tantas cenas lamentáveis, a Amaral Peixoto abrigando tantos apartamentos vazios e em baixo de suas pilastras milhares de famílias sem ter onde viver. Enquanto nas favelas o tiro come solto em cima das massas desarmadas, os malditos batem no peito para dizer que a cidade sorisso é exemplo para o Brasil. Exemplo de eugenismo, só pode.
Para todo lado tudo que se vê por aqui é o povo que não aceita mais ser chicoteado, que cada vez mais levanta sua cabeça e luta. Os finais de tarde na Baía de Guanabara cada vez mais são vermelhos, e pertencem a todos nós.
São Gonçalo, 2022