quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Lógica das Marés

Definitivamente não sei escrever. Porém pensei aqui comigo, que falar sobre os meus sombrios sonhos desta quinta-feira não deve ser mais difícil do que entender esse vai e vem das marés da Baía de Guanabara. Ontem elas estavam tão altas pela manhã que por um momento pensei que fossem invadir a rua. Porém hoje estavam tão baixas que um cheiro de morte entrou forte em meus pulmões, me fazendo sentir uma vontade muito profunda e genuína de vomitar. 

Eu costumo sonhar com a Baía de Guanabara, essa semana mesmo sonhei que estava navegando no meu caíco para a ilha de Jurubaiba. Eu e o mar, o sol e a maré. Nunca fui difícil de agradar, meu éden é um dia de sol e sombra fresca embaixo de uma árvore na Praia da Luz, eu poderia passar a vida toda naquele sonho. Infelizmente uma voz lá do fundo me acordou e logo senti amargamente aquele cheiro de morte que estava por todo lugar, não saiu do quarto por nenhum segundo naquele dia. 

Tenho sonhos sombrios sobre mangues. Sobre mangues de lama espessa, aqueles que conseguem engolir histórias, que conseguem limpar até a mais poluída água que passa por ali. 

Hoje é quinta-feira. Tive um sonho desses. Sonhei que estava andando na Ary Parreiras e de repente todo aquele valão fedorento virava um mangue e me engolia, tentei lutar, mas de que adianta? A maré estava mais forte. A maré sempre é mais forte e aquele cheiro de morte estava por todo lado. 

Eu gostaria de entender a lógica das marés, não sei porque precisam ser tão fortes em dias tão normais, não entendo porque precisam ser tão devastadores naqueles dias mais sombrios. Na baixa e na alta, nunca vai embora, está sempre na espreita pronto para engolir braços, pernas e histórias. 

São Gonçalo, 2024