sábado, 17 de dezembro de 2022

Uma Tarde de Verão

 O plano não era aquele, mas a Praia de Icaraí tem dias que chama. Estava quente, mas o vento forte acalmava. O céu estava tão azul, mas aquela sombra das árvores e as frestas de grama ajudaram contra o sol. Ela estava linda, com aquele jeitinho leve de lidar com qualquer tipo de assunto, qualquer conversa. 

Quando provei pela primeira vez daquele beijo, quando toquei pela primeira vez naqueles lábios tão gostosos, senti uma necessidade grande de aproveitar cada segundo daquela tarde. O nervosismo aumentava a cada segundo, não dava mais para disfarçar. Os medos, os traumas, até mesmo os pesadelos que assombram minha mente se multiplicaram. Mas nem precisava. Descobri rapidamente que tinha escolhido a melhor companhia para passar meu dia. 

Aquela moça, tão bonita, era tão charmosa, tão cheirosa. Seu corpo pulsava a cada toque, a cada mordida, a cada beijo. Sua liberdade me encantou, sua voracidade me arrebatou. 

A vida é curiosa. De repente um vento bate e a gente cai na Praia de Icaraí num dia quente, com vento forte, sombra, gramado e uma companhia ideal para uma boa tarde de verão. 

São Gonçalo, 2022


sábado, 15 de outubro de 2022

Uma Luta de Estudante

Para mim desde moleque a universidade pública sempre foi um sonho. Um sonho que em muitos momentos parecia simplesmente impossível de ser alcançado. Um sonho que quando de forma quase inacreditável aconteceu, não havia mais espaço em meu peito para tanta felicidade. No Brasil algumas coisas são tão inacessíveis, que para um pobre entrar em uma universidade pública muito suor, sangue e humilhações dos mais diversos tipos são necessários. Quando essas coisas passam e você consegue entrar, ai, ai é só felicidade. 

(Que claro, dura exatos dois dias).

Desde os primeiros dias percebi de forma bem rápida que se manter na universidade pública dói ainda mais que tentar entrar. Pois as humilhações aumentam, o esforço duplica-se e a chamada ‘’intelectualidade’’ é um punhado de pessoas mesquinhas e idealistas, que só conseguem mesmo é cheirar os próprios rabos e passarem o dia se drogando em suas ilusões pequenas e niilistas de mundo. A falta de apoio, das bolsas, de identificação estão ali para aumentar ainda mais o empurrão que nos dão em direção à porta dos fundos da universidade. 

E quando o momento chega, o momento de quase estar chutando o balde, precisamos lembrar que não estamos sozinhos. Tantos outros estudantes estão nesta mesma condição e precisamos estar juntos na luta por uma universidade pública que de fato tenha cara de povo e sirva ao mesmo. Só a luta muda tudo dentro dessa sociedade velha em que vivemos e não seria diferente na universidade também. Não adianta chorarmos sozinhos ou simplesmente abrirmos mão de algo que já tomou tanto de nós, é necessário a luta, é necessário nos apoiar em nossos iguais para vencermos mais essas batalhas que se impõem a nós. 

Nenhum passo atrás.

São Gonçalo, 2022 

domingo, 2 de outubro de 2022

A Luta é Necessária, o Voto, é Farsa!

 De A a Z, todos esses malditos já passaram por aquelas cadeiras de sangue. Mesmo os que individualmente não tenham passado, legitimaram e continuam legitimando esse velho Estado assassino, a opressão e pobreza do nosso povo. Agora eles vem mais uma vez, como vêm de dois em dois anos, posam de salvadores da pátria, como algo novo. 


Como ser novo querendo purpurinar o que há de mais velho em nosso país? O velho Estado que mata no campo e na cidade os filhos do povo, velho Estado que mantém um tribunal supremo com milhões e milhões de reais gastos por mês enquanto diz não ter dinheiro para pagar um salário digno aos professores, aos enfermeiros que tanto fizeram durante a pandemia. Dizem que não tem dinheiro para as pessoas que passam fome, que não tem dinheiro para dar moradia a quem não tem uma casa, mas vivem com seus esquemas e altos salários facínoras. 


Dizem que falta dinheiro depois da eleição, é claro, porque agora eles prometem mundos e fundos como estamos acostumados. 


É necessário dizer não! Não a esse falido sistema! É necessário não ter ilusão a respeito da farsa que são as eleições, esse jogo de cartas marcadas onde no fim quem sempre ganha é a classe dominante. Dos latifundiários e da faria lima. 


O que muda as coisas de fato e o que sempre conseguiu as coisas para o nosso povo é a luta, para a derrubada desse sistema e a criação de um novo. Afora o poder tudo é ilusão, está na hora de construir de fato um novo Brasil. Com toda a violência que será necessária para isso, não com flores e balinhas doces que esses mentirosos oferecem para ludibriar o povo.  


- São Gonçalo, 2022

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Sobre Icaraí

Com certeza escrever uma crônica sobre Icaraí, estando em Icaraí, não é uma boa ideia. Porque estando aqui é difícil ignorar sua essência completamente nojenta e elitista, que transcende questões meramente econômicas. As pessoas daqui não são ricas, mas se acham como tal. O que em nosso país costumam confundir como se fossem a mesma coisa. Suas esquinas dão ânsia de vômito, são um mix revoltante de jóias de 20 mil reais e sem tetos nas calçadas, mas isso em si nem é uma novidade, é assim que as coisas são nesse velho país. 

A pergunta que fica é o porquê vir a Icaraí. Porque, bem, a praia é com certeza a mais bonita de todas. Acredito que não tenha comparação, não existe outra mais bonita. O Campo de São Bento é um lugar extremamente acolhedor e tem de tudo aqui, teatro, cinema e cafeterias. As ruas, construções, todo o modo como o bairro é organizado, parece até uma cidade de verdade. Isso é algo dúbio, porque me gera revolta, por que só aqui? É por que tão pouco? 

Ficamos brigando entre nós e não conseguimos ver que se essas pessoas são tão mesquinhas e que se são tantas, o problema não é individual, é social, é do sistema. Por muito tempo direcionei minha raiva aos indivíduos desse lugar e materializei isso ao bairro, que é somente uma convenção geográfica, nem existe no mundo real. Havia tanta raiva, tanta revolta e só agora compreendo para onde devo apontar. 

Ainda não gosto de vir a Icaraí, mas agora tudo é diferente. A verdade liberta de fato, de todas as ilusões e mesquinharias. 


Niterói, 2022


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

As Tardes Vermelhas da Guanabara

Eu conheço todos os buracos entre São Gonçalo e Niterói, talvez conheça até mesmo todas as pedras do asfalto e mesmo assim não tem uma vez se quer que não fique impressionado com o fim de tarde da Baía de Guanabara. É como se eu me sentisse parte daquilo, como se de algum modo aquilo tudo também me pertencesse e na realidade, pertence, pertence a todos nós. 

Toda vez que subo na minha bicicleta em busca do meu futuro, em nome da luta por mundo diferente, é como se tudo aqui fosse cada vez mais parte de mim. A cada pequena vitória, a cada pequena luta, tudo avança e se transforma. Alguns porcos insistem em querer nos tirar tudo, até mesmo nossa cidade, nossa identidade, além da nossa dignidade. Temos visto tantas cenas lamentáveis, a Amaral Peixoto abrigando tantos apartamentos vazios e em baixo de suas pilastras milhares de famílias sem ter onde viver. Enquanto nas favelas o tiro come solto em cima das massas desarmadas, os malditos batem no peito para dizer que a cidade sorisso é exemplo para o Brasil. Exemplo de eugenismo, só pode. 

Para todo lado tudo que se vê por aqui é o povo que não aceita mais ser chicoteado, que cada vez mais levanta sua cabeça e luta. Os finais de tarde na Baía de Guanabara cada vez mais são vermelhos, e pertencem a todos nós. 


São Gonçalo, 2022


Aquele Dia em Jaconé

Passei algum tempo pensando dentro deste ônibus e realmente aquela rua de chão batido, no meio do mato, é assustadoramente empolgante de ser percorrida. Me lembra da última vez que vim a Jaconé. A primeira fulga ninguém mais lembra, mas eu lembro. Eu estava até com os pés no chão, pois os chinelos já haviam sido perdidos. Naquela época o vermelhinho seria muito útil, pois tive que pedir um favor que nunca vou poder retribuir àquele motorista do RJ 108.038

Pode parecer um pouco específico esse início, mas as coisas foram mudando tanto, se modificando tanto, que na maior parte do tempo dói muito refletir sobre. 

Dizem muitas coisas sobre família. Uma delas é que sempre parece que tudo vai acabar, mas não acaba. Porém entrei nesse ônibus sentido um gosto tão amargo na boca, acho que dessa vez acabou de fato. E começou a acabar naquele dia em Jaconé, naquela primeira fulga. 

O pior de tudo é que ninguém disse adeus, mas todos deveriam. 

A nostalgia é vadia, mas o amor filia ordinário, e é por isso que não abro mão de tentar, de subir no E14, de adentrar as escuras ruas de barros no meio do mato, assustadoramente incríveis. Porque sinto falta de me sentir protegido, abrigado, sinto falta de sentir que ainda há uma família de fato. 

Saquarema, 2022 


Simplicidade

 A simplicidade é tão valorosa, 

não há nada mais bonito


O nosso povo luta tanto, 

é tão massacrado, 

e mesmo assim é fiel,

não abre mão do trabalho duro e da cervejinha do domingo


Churrasco torrando,

Pagode tocando, 

Sorrisos esvoaçantes,

O Rio de Janeiro é mais do que aquela paródia de Miami


São Gonçalo e Nova Iguaçu, 

78km de distância,

mas o mesmo povo que faz qualquer lugar parecer com o nosso lar 


Nova Iguaçu, 2022


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Puro Fascínio

 Tão doce é aquela moça,

tão inteligente é cada palavra que sai de sua boca


Seu sorriso é puro fascínio,

é o encanto daquela flor de outono


Nem muito, 

nem pouco

Aquele girassol só exala paz,

e leveza


Aquela boca, 

tão gostosa,

só me causa desamor quando vai embora

Pois quando está bem perto,

me vejo completamente aberto,

ao desejo

e ao seus beijos


- São Gonçalo, 2021


O Sorisso dos Pássaros

 É engraçado. Mas juro que olhei para o Pão de Açúcar hoje e o mesmo pareceu sorrir de volta para mim. Meus ossos tão doloridos até mesmo estalaram, todo cansaço foi embora e meus dentes rangeram, de pé novamente e em frente.

Os pássaros da Guanabara não parecem sentir dor, eles não se importam com quanto o vento está forte, eles só deslizam sobre ele e não se importam se está frio ou calor, chovendo ou um sol escaldante. Sem medos, sem amarras, sem desculpas, eles só seguem em frente. 

Hoje olhei para o Pão de Açúcar e juro que ele sorriu para mim. Me fez lembrar de pisar forte no chão, de não se importar com os medos, com as amarras, nem mesmo com o vento de sudoeste que tem soprado tão forte contra meu velho caíco. 

São Gonçalo, 2022


A Conquista do Atlântico

 Da minha janela dá pra ver a Baía e confesso que por muito tempo isso me bastou. Apenas assistir a maré subir e descer em todo crepúsculo e alvorada era o suficiente, mas conforme os anos foram passando, os poucos dias de passeio pelas praias do atlântico foram me instigando, me provocando. 


As 3 horas e meia dentro dos ônibus que subiam morros desnecessariamente íngremes, a volta toda coberta de sal por um longo caminho, o caos de ir em família com um complexo esquema de logística, desmotivava. Pouco tenho memórias concretas desses dias, pois eles foram muito poucos, momentos únicos durante a minha infância.

A verdade é que o Atlântico é negado para o povo de São Gonçalo, mas eu sempre me embasbaquei, sempre amei o oceano, sempre adorei olhar para o horizonte infinito e me sentir de alguma forma familiarizado com aquele vazio profundo e visceral. As ondas são sempre apenas um detalhe, que contrasta com a extrema paz que sempre sinto ao pisar naqueles grãos de areia tão finos que permeiam meu corpo mesmo após dias distante daquele lugar. 

São 24km que me separam do Atlântico, que me separam da praia, do sol, do horizonte e do azul do leste fluminense. Toda vez que o persigo, toda vez que pedalo pensando em debulhar-me naquele mar infinito sinto cada parte do meu corpo completamente viva, renovo-me para continuar lutando e mesmo os 24km da volta são uma inteira realização, uma felicidade e uma paz de estar transgredindo as diversas barreiras que a velha sociedade e o velho Estado colocam entre mim e o Atlântico. Pois se nos é negado as melhores coisas de nosso lugar, que tomemos-nos em nossas mãos! Que recuperemos um por um! 

São Gonçalo, 2022

domingo, 10 de julho de 2022

Momentos de Realização

 São incríveis aqueles momentos tão sucintos, tão repentinos, no qual podemos parar e olhar profundamente para algo ou alguém e sentir uma completa realização só por poder entender e ver a felicidade acontecendo. É como se, mesmo com a maré subindo, inundando, levando tudo para o além o mar, ainda desse para nadar, para segurar nas raízes das árvores submersas. 

Viver é lutar, viver na velha sociedade é se frustrar, se decepcionar, é sobreviver. Tais momentos sucintos, são tão únicos e sublimes que não podem ser explicados racionalmente, nem mesmo por palavras vazias. São aqueles breves momentos que só precisamos nos agarrar e gravar na memória. Pois quando a maré puxa forte, é nessas raízes que precisamos nos segurar, para não sufocar na água do mar.

São Gonçalo, 2021

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Juventude do Povo

 É mentira, é mentira da burguesia

A juventude do povo não é feita de drogas,

de depressão, muito menos de inconsequência

A juventude é feita de uma força motriz, 

que move as correntes, 

que transforma qualquer coisa em eloquência,

que com as ideias corretas consegue realizar qualquer coisa


Com trabalho duro, tudo é possível, 

e a juventude do povo não se cansa, 

a juventude do povo é implacável

Acordando às 5, dormindo a meia-noite, 

Ajuda a carregar o Brasil nas costas


Na TV, nos malditos filmes ianques maldizem da juventude, 

a difamam

Chamam-na de vadia, de indolente, de drogada

Mas drogada é a velha sociedade, 

Doente é o velho Estado,

Que acha possível a juventude se sentir bem num mundo velho 


E quando a juventude do povo se põe na luta, 

não há caveirão que segure, 

não há fascista que lhe ponha medo,

tampouco tarefa que seja impossível

É disso que temem, e como temem!


A rebelião está na ordem do dia, 

e sua justeza está mais que clara, 

Tremam reacionários, 

a tropa de choque está cada vez maior 


São Gonçalo, 2022





As Pilastras de Xixi

Em outros tempos este desespero teria contaminado tanto que tudo viraria uma gritaria e tentativas de suicídio (e homicídio?). Mas agora esse tempo ruim só se transforma em uma dor profunda no peito e gases. É curioso pensar como em muitos momentos as coisas desmoronam de forma tão rápida, mesmo na maioria das vezes, os ventos nem sendo tão fortes assim.

Tento analisar e as conclusões que chego são tão feias: é muito difícil ver as nossas mesquinharias de forma mais íntima, só torna tudo pior. É como ir ao centro do Rio: provavelmente você não quer passar pela Central com seu cheiro característico de urina, carne podre e esgoto, mas você vai, porque é obrigado, porque é algo inerente a sua vontade, porque todo mundo que precisa ir de ônibus de São Gonçalo para quase todos os lugares do Rio, passa por ali. E é assim também com as nossas vidas, e eu não aguento mais as minhas pilastras sujas de xixi.

As frustrações, as decepções, as escolhas erradas, as erradas concepções que tanto se grudam e pesam em minha cabeça cheiram como o Rio Tietê, me causam náuseas. Parece que há uma banda de death metal em minha mente todo o dia e eu sei que é a velha sociedade quem é o vocalista. É ela que nos perverte, que nos faz sentir tão mal, que brinca com as nossas relações e acaba com tudo. É muito difícil nadar contra o ímpeto de não sair da cama, de não chorar todo o dia, de não se sentir sozinho ou um elemento esquisito, um elemento deslocado em meio até mesmo os meus iguais. 

É uma luta diária que é travada em nossas mentes para não sucumbir, para continuar lutando para destruir essa velha sociedade, para destruir todas as concepções erradas que tanto pesam sobre nossos ombros e mesmo que o desespero esteja batendo forte, não podemos ser idealistas. Não há caminho fácil, e as lágrimas derrubadas no caminho demonstram que há algo sendo destruído. Nenhuma criança veio ao mundo sem que sangue, gritos e lágrimas sejam derrubados, nenhuma revolução foi feita com pessoas vivendo no mundo do Oz. Se erramos hoje é porque ainda há trabalho para ser feito e não podemos esperar deitados em nossa cama. Precisamos lutar mesmo que capegando, mesmo que chorando e se sentindo um lixo. 

Para acabar com todos os monstros, todas as montanhas e seus pequenos morros. 

São Gonçalo, 2022

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Patético

 Não escrevo pela literatura, ela nunca fez nada por mim. Já disse muitas vezes que para mim as frases são apenas um refúgio, são apenas a forma como consigo não explodir em meio às tantas coisas que se passam dentro da minha cabeça. Nunca prezei por poemas bonitos, nem crônicas bem escritas, nunca nem por um momento achei que qualquer um dos meus escritos não fossem absolutamente patéticos. Até porque, sempre que me olho no espelho é só isso que eu consigo sentir, por que eu olharia para minhas frases e enxergaria outra coisa? Não sou Fernando Pessoa, nunca nem quis ser, eu não consigo escrever mais do que meus olhos conseguem ver, não sou escritor, não sou artista. 

Eu não consigo nem sequer escrever inícios originais, são sempre os mesmos patéticos inícios e que sempre chegam nos mesmos patéticos finais, utilizando as mesmas patéticas palavras e eu nunca neguei, nunca neguei o quão patético são. Mas, aparentemente, ainda não ficou claro, ainda não ficou explícito o fato óbvio que não sou escritor, que não sou artista, que não escrevo minhas frases para agradar mas sim, para não surtar por ser uma pessoa patética


- São Gonçalo, 2022


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Em Memória de Brumadinho

 Um estalo e de repente, a onda veio

Uma onda espessa e marrom,

que levou vidas, 

que levou sonhos 


Os porcos não se importam

A ordem e progresso para eles,

pode ser soterrar pessoas vivas,

pode ser matar sem nem mesmo permitir gritos,

ou pedidos de socorro 


A Vale do Rio Doce,

a Vale da Morte,

dos assassinatos

Acha que tudo está acabado,

que o assunto está finalizado 

Mas a lama não evapora no vento,

ela depois de seca,

endurece como rocha


As massas se lembram de Brumadinho,

de Mariana 

Os mortos da Vale Assassina, 

Irão ser vingados 


  • São Gonçalo, 2022


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Dias de Atlas

 Tento levantar,

mas meus dedos não respondem,

Ainda não consigo superar que já amanheceu

o despertador já tocou,

o desespero já tomou conta,

Vai tudo começar mais uma vez,

e o matadouro está batendo a porta


Não descansei mais uma vez,

as lágrimas que secaram de ontem,

estão caindo novamente

Tento me conformar que vai começar de novo,

mas tudo que consigo é vomitar mais uma vez


Ainda não são 8 da manhã,

e o calor escaldante já começa a tortura,

berrar infelizmente não é uma opção 


De passo em passo, 

luto contra essa vontade enorme,

de me entregar ao fim 


Os minutos passam, 

mas a dor não

Não consigo parar de pensar, 

não consigo pensar, 

só quero não pensar

São tantas besteiras, 

é tanta raiva,

frustração 


As horas passam, como se fossem dias

Vivo no meio de surdos falantes,

e de falantes surdos 

A tristeza só aumenta conforme a meia-noite chega,

a solidão invade e da suas mãos com a ansiedade,

Tento desmaiar, mas tudo que consigo,

é me desesperar ao lembrar,

Que amanhã tudo se repetirá 


São Gonçalo, 2022


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Um Poema Para Você

 Já faz anos que escrevo


Escrevi para tantas pessoas,

sobre tantas coisas,

com palavras bonitas e tristes,

mas até hoje não sei como iniciar um poema,

até hoje não sei escrever em versos 


Tento começar do começo, 

mas não consigo esquecer o fim,

não sei segurar essa vontade de dizer na primeira frase,

Que amo você 


Penso em tantas metáforas

Sobre flores,

estrelas,

até mesmo jardins e oceanos

Mas com você é diferente,

pois nunca sei por que escrevo,

e em alguns dias nem sei pra quem escrevo


Tem dias que você é a vilã, 

a que me despedaça,  

fria como o ártico

Em outros momentos é como se fosse meu porto seguro,

Com uma leveza e carinho que só você me dá


Eu não sei como começar poemas, 

mas sei como terminam 

Terminam naqueles dias,

que olho para você e fica evidente,

evidente que amo você 


Niterói, 2021