segunda-feira, 25 de abril de 2022

As Pilastras de Xixi

Em outros tempos este desespero teria contaminado tanto que tudo viraria uma gritaria e tentativas de suicídio (e homicídio?). Mas agora esse tempo ruim só se transforma em uma dor profunda no peito e gases. É curioso pensar como em muitos momentos as coisas desmoronam de forma tão rápida, mesmo na maioria das vezes, os ventos nem sendo tão fortes assim.

Tento analisar e as conclusões que chego são tão feias: é muito difícil ver as nossas mesquinharias de forma mais íntima, só torna tudo pior. É como ir ao centro do Rio: provavelmente você não quer passar pela Central com seu cheiro característico de urina, carne podre e esgoto, mas você vai, porque é obrigado, porque é algo inerente a sua vontade, porque todo mundo que precisa ir de ônibus de São Gonçalo para quase todos os lugares do Rio, passa por ali. E é assim também com as nossas vidas, e eu não aguento mais as minhas pilastras sujas de xixi.

As frustrações, as decepções, as escolhas erradas, as erradas concepções que tanto se grudam e pesam em minha cabeça cheiram como o Rio Tietê, me causam náuseas. Parece que há uma banda de death metal em minha mente todo o dia e eu sei que é a velha sociedade quem é o vocalista. É ela que nos perverte, que nos faz sentir tão mal, que brinca com as nossas relações e acaba com tudo. É muito difícil nadar contra o ímpeto de não sair da cama, de não chorar todo o dia, de não se sentir sozinho ou um elemento esquisito, um elemento deslocado em meio até mesmo os meus iguais. 

É uma luta diária que é travada em nossas mentes para não sucumbir, para continuar lutando para destruir essa velha sociedade, para destruir todas as concepções erradas que tanto pesam sobre nossos ombros e mesmo que o desespero esteja batendo forte, não podemos ser idealistas. Não há caminho fácil, e as lágrimas derrubadas no caminho demonstram que há algo sendo destruído. Nenhuma criança veio ao mundo sem que sangue, gritos e lágrimas sejam derrubados, nenhuma revolução foi feita com pessoas vivendo no mundo do Oz. Se erramos hoje é porque ainda há trabalho para ser feito e não podemos esperar deitados em nossa cama. Precisamos lutar mesmo que capegando, mesmo que chorando e se sentindo um lixo. 

Para acabar com todos os monstros, todas as montanhas e seus pequenos morros. 

São Gonçalo, 2022

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