São Gonçalo, 13 de Março de 2025
Oi, como está?
Hoje o sol se infiltrou pela cortina e me acordou tão cedo que estou com sono até agora. Olhei em volta e lembrei que tínhamos que conversar. Percebi que nunca te disse o quanto amo a Estrada do Cruzeiro do Sul, por causa das árvores, mas também pela memória de andar na garupa daquela bicicleta prata. Às vezes penso que perdemos, porque olho em volta e sabe, tudo é muito difícil. Porém nesses últimos meses, olhar para trás só me dá mais certeza que aquela não era a vida que acredito, não era a vida que eu quero viver.
Escrevo essa carta pois estou inquieto, não consigo guardar para mim tantas coisas, tantas reflexões e opiniões. E uma dessas coisas é algo já conhecido: que a Barra da Tijuca além de tosca é feia, que a Zona Sul é o carrapato da Zona Norte, que Icarai fede e que se a luta de classes atravessa oceanos, ela também atravessa a linha 4 do Metrô Rio (Só talvez não consiga a integração do Bilhete Único).
O silêncio, a inércia, a apatia, somente é reservada a quem pode, pois cria que dorme a PM mata e às vezes nem precisa dormir para isso acontecer. Quem paga a conta no final do dia, é o povo que segue lutando e morrendo sem direção alguma. Não existem cancelas fechadas na Avenida Central de Niterói, O 55A de lá não fica preso nos quebra molas do Bitinho. Eu gostaria que você soubesse que no Recanto das Acácias não dá para subir às nuvens com escadas rolantes de fumaça e pó, porque essas não saem do chão aqui. Para chegar no céu a gente sobe um em cima do outro, um dia chegaremos lá e quando esse dia chegar, não teremos medo de cair. Porque nesse mundo, a verdade é sangrenta sim e as fantasias de contos de fadas, são envoltas de frustrações e vazio. Desculpe senhor, senhora, mas sou até o fim pela verdade. E não tenho medo do sangue, nem das lágrimas, talvez eu tenha medo somente da minha namorada brava.
E se for necessário, rumo à Praia da Beira! Pois a consciência além de um fardo, é, principalmente, liberdade!
Adeus, digo para a Estrada do Cruzeiro do Sul, não devo escrever novamente. Atenciosamente, João
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