quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Os Bravos Proletários

E estes somos nós: os bravos proletários. Somos nós aqueles que a História deve prestar suas desculpas, aqueles que não serão lembrados nos livros. De Napoleão à Hitler, os sanguinários reacionários são sempre lembrados pela História burguesa. Tijolo sobre tijolo, teremos que construir uma nova democracia assim que o capital deixar o mundo dilacerado, teremos que fazer as novas angiospermas crescerem junto com os brotos da revolução. Os processos históricos um dia nos levarão a um mundo completamente novo meu camarada, levante essa cabeça, ergamos nossos punhos e vamos construir o futuro vermelho que nossos filhos terão.

- São Gonçalo, 2019 

domingo, 6 de dezembro de 2020

O Lugar Onde a Pobreza não se Esconde

 Andando pelas esquinas sujas de São Gonçalo,

a pobreza e o caos não se escondem

É aqui onde a pior face do velho Estado se faz presente,

é aqui que o desespero toma conta de todos diariamente

A raiva reprimida, 

a revolta,

a dor,

São Gonçalo é um barril de pólvora,

prestes a explodir


Como se borram os oportunistas,

Como se apavoram os reacionários,

Com a revolta do povo 

Mas é inevitável,

O muro vai cair, 

vai cair sobre as cabeças dos agressores do povo


O sangue que jorra diariamente de Itaúna a Santa Izabel,

do Gebara a Neves,

Será vingado

A paciência está acabando,

A miséria precisa acabar,

O povo irá se vingar 


- São Gonçalo, 2020


domingo, 29 de novembro de 2020

Vivo

Estou vivo, 

E meu coração quente,

Está longe de ser apagado


Estou vivo,

Não sou um capacho

As asas da minha mente são livres,

Elas voam tão alto, 

Que a alienação não consegue alcançar


Estou vivo, 

Minha voz ecoa forte, 

Sobre os que extorquem,

Sobre os oportunistas,

Sobre os indivíduos mesquinhos


Estou vivo,

Não me ajoelho,

E sigo em frente

O horizonte luminoso está próximo


São Gonçalo, 2020


Mais uma Vez

De novo estão pisando em ovos,

Se alegrando com falsas vitórias,

E idolatrando os porcos

De novo estão trilhando o velho caminho,

O caminho que não leva a lugar algum


‘’Democracia burguesa ou morte’’,

Bradam os ‘’democratas’’

Democracia burguesa que é a morte,

Que é a opressão,

Que é o massacre do pobre,

Do preto,

Da mulher,

Dos LGBT


De novo estão pisando em ovos,

Se alegram com falsas vitórias

Não conseguem sair de suas alienações,

Não conseguem perceber que:

De farda ou não,

O capital é a opressão,

É a tirania,

É a morte 


São Gonçalo, 2020


A Central do Brasil

Central do Brasil, 

o coração popular do mundo carioca 

Onde se encontram o samba, 

a luta,

e a camaradagem carioca 


Entre a correria, a confusão e os ruídos dos trens,

a cidade maravilhosa,

mostra todas suas contradições

A fome, o desemprego, a falta de teto

A Central é o retrato do desastroso capitalismo burocrático brasileiro,

Que massacra e oprime os pobres diariamente,

que tira até a última gota de sangue do povo 


É na Central que reside a luta e voracidade do povo

É na Central onde tudo começa,

e termina 

Pois a Central do Brasil é do povo, 

pois a Central do Brasil é o povo 


São Gonçalo, 2020


sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Meu Horizonte

 Não me entrego a retórica, 

Não me assusto com frases prontas,

Não me abalo com a incompreensão,

Não sou utópico


Meu horizonte é coletivista,

Meu futuro é socialista

Não temo a revolução,

Pois sou proletário,

Sou periférico,

Eu clamo por ela 


Não temos nada a temer meus amigos,

É questão de tempo

O capitalismo vai acabar, 

O amanhã vermelho vai triunfar


Não vou me intimidar,

Não vou me calar

Sem retroceder, 

Sem temer

Meu horizonte é coletivista,

Meu futuro é socialista. 


- São Gonçalo, 2020


Um Tempo

Escrever é difícil

Teve um tempo,

em que eu sabia desabafar

Um tempo em que as lágrimas, 

saíam pelas palavras


A solidão é barulhenta

Grita tanto,

é impossível ignorá-la

Tenho saudade do tempo,

em que eu achava possível sonhar,

sonhar com uma vida sem tristeza 


Caminhar é fácil

Houve um tempo,

em que eu subia a Saída 316,

e era como se o vento soubesse,

onde eu queria ir


Viver é ameaçador

ainda lembro do tempo,

onde eu ainda conseguia ficar de pé 

A realidade foi muito frustrante de fato,

como costuma ser nesse lado do Rio Bomba


- São Gonçalo, 2020

A Curva da Morte

 A curva da morte brilha e se mantém viva sob a luz do luar. Mesmo com o barulho das árvores balançando com o vento, a calmaria toma conta. As pequeninas marolinhas que insistem em bater no concreto da fábrica, bailam em uma sinuosidade única enquanto refletem a lua. Elas aferram meu coração, elas batem forte dentro de meu âmago. 

Desmascarando todas as ilusões, despersando todas proteções. Enquanto a bicicleta pula em todos os buracos, sinto-me envolto em minha própria sombra, sinto um frio na barriga, pois cada buraco sempre parece maior do que de fato é. 

A curva da morte vive as margens da Baia da Guanabara, e nos dias de lua cheia, brilha forte como um diamante.

- São Gonçalo, 2020


domingo, 11 de outubro de 2020

O Barquinho de Papel

As ondas tem sido grandes, 

E o meu barquinho de papel,

tão pequeno,

pode não suportar

A tempestade voraz, 

amedronta

Pois meu barquinho de papel, 

tão frágil,

Está prestes a naufragar


  • São Gonçalo, 2020


O Aroma da Primavera

Tenho me perdido no aroma de uma flôr, tenho sido fraco novamente, tenho visto os mesmos erros acontecerem novamente dentro de meu âmago. 

Hoje peguei-me escrevendo aqueles versos novamente, versos para flores de primavera, versos para flores que de tão distantes, parecem metafísicas. São tantos poemas falsos que já escrevi, tantas mentiras escritas sobre encantos totalmente efêmeros que estou cansado de gastar frases bonitas com tão pouco. Mas estou aqui novamente, estou aqui novamente escrevendo sobre metafísica e não sei, não sei controlar. 

Pois apaixonado sou pelas frases bonitas, apaixonado sou por me apaixonar pelo que há de mais bonito no mundo. 

E como sou triste, triste sou por viver perdido nas flores metafísicas de primavera. 

- São Gonçalo, 2020


Um Barco Para as Estrelas

Tem sempre um tempo que poucas coisas fazem sentido

Aqueles momentos que fechamos os olhos, 

E tentamos entender a ebulição

Mas tudo que acontece é confuso,

E angustiante


Deitado no travesseiro embaixo das estrelas,

Os fantasmas tentam nos levar para além da baía

A ansiedade prepara o barco,

E não embarcar é para os fortes 

A tristeza é produto da incerteza,

As lágrimas, 

O coágulo da melancolia


Tem sempre um tempo que poucas coisas fazem sentido

Aqueles momentos que fechamos os olhos,

E nos perdemos na imensidão da nossa mente


  • São Gonçalo, 2020

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Uma Crônica sobre um Sonho de Primavera

    Escrevo muito intimamente, não consigo escrever crônicas. Tento de novo nessa, porque diante de tanta perversão e caos, não seria honesto escrever um poema de versos suaves e escritos calmos. Foi um relance que mudou as coisas, um olhar que desmobilizou completamente qualquer senso moral, uma ensandecida tempestade que se abateu em meu coração e me jogou a frente. 

    Era difícil disfarçar, até que tudo explodiu. A onda não bateu só em mim, mas é fato que sou louco e os loucos quase nunca tem razão. A onda bateu e levou, levou todas as prevenções da minha mente, o vento levou às últimas barreiras de sanidade e quando percebi já era tarde. Aquele sorriso. De gargalhada em gargalhada me aproximava mais do fim e tudo, tudo parecia estar muito distante. Até que, olhando o teto percebi: o mundo ainda é o mesmo, e o louco ainda sou eu. A realidade não pode ser enganada, não pode ser dobrada e a vida não é um sonho de primavera. 

    Minhas horas douradas, se esvaíram e a realidade tomou conta novamente. 

Não sou bom com crônicas, elas escapam do meu controle de maneira tão rápida, eu não as compreendo, eu não sou suficientemente bom para acompanhar o ritmo das letras e frases, sou ainda um menino com medo de escrever. 


São Gonçalo, 2020


sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Sobre o 11 de Setembro

As torres que caíram uma vez do lado ianque, 

caem todos os dias por cima dos povos subjugados de todo o mundo 


O som dos caças, 

ainda ecoam na memória da América Latina

Junto com os entulhos do La Moneda,

que ainda estão espalhados pelo solo chileno

O estádio nacional ainda lembra das torturas,

dos estupros em massa, do genocídio nas favelas

Sangue e lágrimas chilenas jorraram naquele dia,

11 de setembro de 1973


Neoliberalismo e barbárie, 

a ditadura da burguesia,

elevada até as últimas fases da opressão aos pobres


Allende se esqueceu que,

naquela época, e ainda hoje,

é o imperialismo selvagem que controla o mundo, 

que o poder vem da ponta do fuzil,

e que a vitória só irá vir com uma nova democracia


São Gonçalo, 2020



terça-feira, 14 de julho de 2020

A Barbárie do Capital

Como é solitária a quarentena,
Como é desesperadora
A realidade está posta,
Sangue está sendo jorrado,
E só vejo piadas de lado a lado
O presidente não está nem ai,
Fodam-se os mortos
Os militares na esquina,
Estão só esperando o momento,
Vão dar o bote

A barbárie só está começando,
E o desespero domina a quarentena
Hoje deito na cama com sangue,
Sangue nos olhos e puto
Puto com a burguesia,
Com o capital,
E com o Bolsonaro
O fim do mundo não está próximo,
Mas o de milhares de periféricos,
Sim

- São Gonçalo, 2020

sexta-feira, 3 de julho de 2020

E lá Vamos Nós

De novo estão pisando em ovos,
Se alegrando com falsas vitórias,
E idolatrando os porcos
De novo estão trilhando o velho caminho,
O caminho que não leva a lugar algum

‘’Democracia burguesa ou morte’’,
Bradam os ‘’democratas’’
Democracia burguesa que é a morte,
Que é a opressão,
Que é o massacre do pobre,
Do preto,
Da mulher,
Dos LGBT

De novo estão pisando em ovos,
Se alegram com falsas vitórias
Não conseguem sair de suas alienações,
Não conseguem perceber que:
De farda ou não,
O capital é a opressão,
É a tirania,
É a morte 

São Gonçalo, 2020

O Monstro

Seu corpo é quente,
Como a divina porta do inferno,
Como o Rio no verão

Tocando-o,
Senti um monstro aprisionado,
Esperando para sair
Deitou e não temeu ser acordada
Pois naquela tarde só havia arco-íris,
E paz

Foram tardes jogadas,
Na cama do meu quarto,
Vendo o mar,
De todos nossos sonhos

Um dia você vestiu um vestido pra mim
E eu o tirei,
Em menos de cinco minutos
Tentando achar o monstro,
Que sempre me fez te amar

São Gonçalo, 2018

sábado, 20 de junho de 2020

Firpo, O Abacate

Existia lá na copa do abacateiro uma comunidade, uma comunidade de abacates. Abacates comuns, trabalhadores que viviam de verão em verão tentando sobreviver de acordo com as mudanças do vento, dia a dia tentando permanecer imóvel mesmo com todos os balanços dos galhos. 
Até que dia ocorreu um reboliço, que tomou conta da comunidade, tanto movimento que a árvore balançava mesmo sem vento. Em meio ao frenesi de um novo verão que estava prestes a começar, Firpo olhava fixamente para o chão tentando aceitar que talvez sua vida não fosse o que ele queria de fato, mas algo nele o fazia pensar que tudo estava próximo de mudar. 

- Dora, você sabe o que está acontecendo?
- Como assim, você não soube da notícia? Estão preparando um novo plano para assassinar nossos colonizadores
- Mas o que eles fizeram? Nem mesmo cortaram nossos galhos ainda?
- Firpo, você está louco das ideia. ELES EXISTEM! Podem nos destruir a qualquer momento. Você realmente acha que da para confiar?
- Não sabemos nada, o que será aquele azul lá no fundo? O que será aquele azul aqui em cima? Por que eles não falam nossa língua? Será mesmo que nos odeiam? Ninguém sabe Dora. Não sabemos, não sabemos nada. Isso não te perturba?
- Desculpe Firpo, mas não preciso de nada além dessa seiva. E é esta seiva que está ameaçada por esses bárbaros. 

A noite caiu como também caiu as velhas e secas folhagens que ainda insistiam em se agarrar a temporada que tinha acabado no dia anterior, a lua já tomava seu lugar lá no alto e Firpo só conseguia pensar em como ele não conhecia nada no mundo.Na copa do corpo verde o Rei Abat II maquinava seus planos de dominação e planejava passo a passo, no fundo ele sabia bem que um ataque direto não surtiria efeito seu pai, Cate IV, já tentou de maneira fracassada o fim dos cabelo preto que moram embaixo da morada dos abacate:

- Meu pai era um grande homem, mas não tinha o culhão necessário para finalizar o serviço, só tem uma forma de matar um cabelo preto.
- E qual seria vossa majestade? 
- Ah meu caro Tim, uma missão suicída. E quero que você me faça um favor

O dia amanheceu e um cartaz no meio da praça estava colocado com os seguintes escritos ‘’Se você quer conhecer o mundo, coloque aqui seu nome e diga o motivo, as melhores respostas ganharam o direito de viajar’’. Firpo estava andando junto com Dora pelo centro e ao se deparar com a multidão ficou se perguntando do motivo, do porquê estava instaurada tal confusão.

- Firpo estão recrutando pessoas para irem nas novas excursões, seu sonho não é esse? Por que não tenta se inscrever?
- E como eu responderia a essa pergunta?
- Não sei, só saberá se você escrever

Foi então que Firpo pegou o lápis e tentou escrever, tentou mostrar o que tinha em seu coração:
‘’Teve um dia em que olhei para dentro de mim e perguntei: O que eu sou? Eu sou uma fruta, um abacate. Abacates são frutas originárias da mata atlântica, vivem em árvores angiospermas com copas altas e folhas largas. Abacates nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Eu sei o que é um abacate, mas não sei quem sou. Eu sei de onde abacates são, mas não sei de onde sou. Eu sei que abacates nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Mas não sei se nasci, não sei se cresci, não sei se irei ter filhos, mas sei que morrerei. Pois a morte é a única certeza que todos temos, é o que nos mantém vivos. O medo da morte iminente me faz querer ver o mundo, me faz querer entender e viver o que sou. O que sou de verdade, além do meu imenso vazio.’’

- Dora, vamos, já acabei.

Enquanto Firpo estava a caminho de casa, o Rei já recolhendo as cartas junto a seu serviçal, logo após bater de cara com a carta de Firpo, já sabia, é ele. Foi então que Abat o chamou a seu castelo e lhe fez a proposta

- A vida é um mar de possibilidades mesmo, em um momento você é um abacate do mato e em outro você está de frente com o seu Rei lhe dando uma missão
- E o que seria essa vossa majestade? 
- Você quer conhecer o mundo e preciso que alguém me traga boas novas do mundo exterior, você está disposto? 
- Eu só quero conhecer o mundo senhor, eu aceito

Os dias passaram e Firpo pode se despedir de Dora, escreveu cartas para seus sobrinhos, limpou sua casa pela última vez. Quando enfim chegou o dia, os propulsores foram instalados em seu corpo. Ele olhou nos olhos de Abat e percebeu um prazer estranho nos olhos de seu soberano, mas naquela altura o caminho de volta para casa não poderia ser preenchido mais uma vez. 
Quando ele começou a cair, a zarpar em busca do novo mundo, o calor e a vulgaridade de seus pensamentos atingiram seu coração de uma forma tão forte que uma explosão de felicidade o acometeu. Sorrindo ele viu um novo horizonte amanhecer, sorrindo ele se viu pisando em cabelos pretos. Firpo percebeu a morte chegando, mas também percebeu que nunca antes tinha se sentido tão vivo, procurou a vida toda um significado e o encontrou justamente na hora de sua morte. De repente o medo da morte iminente havia passado e isso de certa forma o libertou, Firpo estava agora feliz e não poderia pensar em mais nada.
Ele pulou para salvar seu povo, para adentrar novos horizontes e conhecer novos dias, ele pulou para achar sua essência e somente encontrou sua morte. A sua, a de um cabelo preto que ele não conhecia, não sabia falar sua língua e que teve sua vida ceifada naquele momento. O fim, um momento que é esperado, mas nem sempre almejado, mas no fundo todos sabemos que uma hora ele irá chegar.

Por J.P Goulart

segunda-feira, 15 de junho de 2020

ás Lágrimas

Joguei-me às lágrimas
Às lágrimas de saudade,
E de felicidade
Às lágrimas de angústia,
E de desesperança

Queria tanto amar novamente,
Sentir esse sentimento na pele novamente
Pois agora isso parece distante,
Parece agora, uma lembrança desgastada

Não tenho mais esperanças,
O mundo ficou cinza,
Estou abandonado, 
E o meu coração está morto

São Gonçalo, 2020

Minha Utopia

Minha utopia,
Você é a minha utopia
Meu sonho impossível,
Minha República Platônica

Sonhar com seu beijo é o meu destino,
Amar-te, aqui da margem, 
É o que me resta

Desejo-te tantos nesses dias sombrios,
Quero-lhe tanto aqui em meu lado
E isso está tão na cara,
Que meu coração quase salta,
Toda vez que escuto tua voz 

Você é minha utopia 
Minha República Platônica
Meu sonho impossível 

São Gonçalo, 2020

Me Maltratar

As vezes choro ao pensar na vida
Choro porque as lágrimas são livres,
Porque a dor se esvai por meio delas

As vezes penso em suicídio,
Pois os velhos dias são velhos,
E os novos dias são ainda mais tristes
As vezes eu queria viajar,
Quem nunca ouviu falar das montanhas?
Ou então das praias debruçadas ao além mar

No fundo,
Eu queria mesmo era poder flutuar,
Planar,
Além das nuvens
Talvez assim a minha mente saltasse,
Sem me maltratar

São Gonçalo, 2018

Na Penumbra

Tenho me pegado pensando em trevas,
Tenho me sentido perdido em meio a penumbra
Em meio a incertezas apavorantes,
Minha mente clama por paz

Tenho me sentido sufocado,
Aprisionado 
Parece que estão a espreita,
Escutando meus passos,
Acessando meus pensamentos
E não sei, 
Não sei o que fazer 

Tenho sentido tanta tristeza,
Tanta raiva
Que no fundo nem sei bem do que
Sinto que estou sem rumo,
O que pensar?
O que sentir?
O que fazer?

São Gonçalo, 2020

O Abrir de Portas

Só queria sonhar
Sonhar com o abrir das portas, 
Com o final de um dia de semana
Não entendo o motivo,
Mas talvez ver minha cidade faça falta

Pegar a bicicleta e pedalar,
Seria como flutuar de felicidade 
Poder sair e gritar,
Gritar o quão porco é o sistema,
Quão opressor é o capital
Esbravejar e lutar contra os demandos,
Unir, gritar e protestar

Nesse momento,
Eu só queria o abrir das portas,
O lutar e esbravejar na rua,
O pedalar e o flutuar

São Gonçalo, 2020

Penso, Logo, Resisto

"Penso logo existo", foi Descartes quem disse isso. Será mesmo que ele precisou pensar para existir ou a nossa existência, que nos faz pensar o motivo de vosso próprio destino? Não sei se acredito em destino, mas na leitura acredito. Acredito que entre as linhas e frases, há mesmo um certo tipo de libertação. A libertação de entender, que livros não tem respostas, mas sim perguntas. As perguntas que só a estrada pode satisfazer e o mundo moldar.

Descartes não conhecia o Rio de Janeiro, não sabia que pensar, não é existir, pois existir aqui é sobreviver as balas perdidas. Existir aqui é fugir das prisões do capital, é driblar essa elite nojenta e explorar. Explorar as maravilhas da cidade maravilhosa, explorar a selvageria de suas esquinas e botequins. Explorar e viver no ritmo do samba, pulando no mar, nadando nos rios, babando aos relevos e vivendo no mato. Cerrando os punhos, trincando os dentes e resistindo a PM nojenta que representa o velho Estado brasileiro. 

Existir no Rio é ser sobrevivente, ser sobrevivente no Rio, é ser livre.

São Gonçalo, 2020

Tanta Procura

Tanta procura
Tantas manhãs correndo atrás
E para que?

Hoje andei pela calçada,
Fechei meus olhos, 
E os pequenos raios de sol me tocaram
Havia tantas nuvens,
Estava tão frio,
Tive medo

Tenho andado com medo,
E tudo vem parando a míngua 
"Carpe Diem",
O Brasil tá acabando

São Gonçalo, 2020

Os Sentimentos

A complexidade é terna,
Sóbria e vulgar  
Entretanto a simplicidade é atroz,
Grossa e fria

A paz é complexa,
Pois cosmopolita é a sua essência,
E complicada é a sensação,
De uma vida de paz 

Tristeza é simples,
Porque chorar é fácil,
E viver na frustração consequência

Amar é complicado,
Pois amar é filosofar,
Filosofar é pensar,
E pensar é difícil 

Rio de Janeiro, 2019

Quando Fiz 10

Quando fiz 10 anos,
Eu não tinha medo do escuro
Quando fiz 10 anos,
Eu tinha medo da escola

Era um tempo diferente,
era um tempo que sorrir ainda era fácil
Tempestade após tempestade,
eu ainda achava que podia mudar o mundo

As tardes de fim de semana,
eram as tardes no quarto da minha avó,
No meu mundo dos ônibus
eu era sozinho, mas o que é solidão?
Não sabia

O amor estava lá,
a mágoa e o remorso não existiam 
Ainda era fácil acreditar no sangue,
ainda era fácil verbalizar ‘’eu te amo’’ a estranhos

Quando fiz 10 anos, achava que podia mudar o mundo. Fiz 20 e foi o mundo que mudou comigo.

São Gonçalo, 2020

Para Onde?

Como se animar?
Como não se desesperar?
São tantas notícias ruins,
São tantas lágrimas que tem caído

Hoje o dia estava azul,
Profundamente azul
Por algum momento,
Parecia que tudo tinha passado
E por um só momento,
Pude sentir a esperança banhar-me

Mas agora estou aqui,
Sinto-me nas sombras novamente
Parece que existe um tampão,
Algo na garganta
Tenho vontade de vomitar,
E não posso gritar
Tenho vontade de xingar,
Mas não consigo me libertar

Depois de dois minutos de reflexão,
Tudo fica triste na quarentena,
Tudo parece ter um borrão
A melancolia tem assustado
E em meu coração,
Só me pergunto,
Para onde vamos desta vez?

São Gonçalo, 2020

O Inverno

E então,
Já sinto o inverno
O frio caracteriza,
O céu profundamente azul ilumina,
Os belos fim de dias exaltam
Estamos pela estação das brumas

Os dias já são menores,
As noites tem perdurado por tempo demais,
E o vento já bate gélido nas manhãs
Estamos em cima de um lago congelado,
Que a qualquer momento pode se partir

As coisas tem ficado estranhas,
Paradas e ao mesmo tempo imparáveis
Tem dias que nada mais faz sentido,
Que tudo parece melancólico,
Estamos em meio ao pandemônio

É
Já sinto o inverno,
Sinto frio,
Sinto medo,
Sinto as noites sem fim dentro de mim,
Sinto os ventos gélidos das manhãs,
E o melancólico azul profundo do céu

São Gonçalo, 2020.

O Sangue Estará em Suas Mãos

Acordei hoje, como acordei ontem
Acordei ontem, como acordei semana passada
Os dias estão passando apertados 
O desespero tá batendo,
E a tristeza acabou com sua trégua
Tenho medo,
E raiva 

Raiva de me sentir inútil,
Raiva de me sentir incapaz,
Raiva de sentir na pele os efeitos do sistema,
De me sentir um estranho em meu ‘’lar’’

Tenho medo pela minha cidade,
Pelos meus iguais,
Pela minha sanidade

É uma questão de tempo
O sangue estará nas mãos dos liberais,
Estará nas mãos dos que apertaram 17,
Estará nas mãos do presidente da república
Se não for o Covid, 
Será o pós pandemia

E deus, será mesmo brasileiro?
Veremos em breve

São Gonçalo, 2020

O Escuro da Pandemia

No escuro da pandemia,
Morrem os silenciados,
Morrem os subnotificados
De tão invisíveis,
Morrem sem sangue
De tão descartáveis,
Morrem sem nem virar estatística,
Viram, na verdade,
Churrasco para o presidente

A carne do pobre,
Sempre vai ser fácil de ser grelhada 
A bandeira nacional é vermelha, 
Vermelha de sangue,
De sangue periférico

O sol é para todos
Morrer esperando uma UTI do SUS,
É para muitos
Morrer sem diagnóstico correto,
Para a maioria
Não surtar ante a necropolitica, 
É para poucos 

São Gonçalo, 2020

Os Filhos do Segundo Milênio

Somos os filhos do segundo milênio,
Os herdeiros do mundo em ebulição
Aqueles que sofrem com a rapidez do século XXI,
Com o mal do século, a depressão, 
A ansiedade por um novo mundo, 
Que cada vez mais se parece com o velho

Queremos ser feliz,
Mas temos tantas preocupações
Queremos viver na arte,
Mas o dinheiro sempre fala mais alto
Não queremos nos sentir sozinhos,
Mas tudo está tão longe

Somos egoístas?
Somos inseguros?
Somos insuficientes?
A juventude herdou um mundo doente,
Os herdeiros do segundo milênio foram jogados ao vento,
Estão largados na sarjeta 

São Gonçalo, 2020

sábado, 13 de junho de 2020

Lady Grinning Soul

Ela invadiu meus sonhos,
De um modo tão doce,
Que minhas sonecas poderiam durar mais
Ela invadiu minha arte
Agora as frases rabisco,
Sempre acabam falando sobre ela
Ela invadiu meus dias,
Até mesmo os dias de quarentena,
Tem passado rápido

O perigo ronda,
Ela é a arte da perdição
Tenho medo,
Ela está invadindo meu coração

Teve um dia que ela invadiu meu sonho,
Ela segurou minha mão,
Olhou no fundo dos meus olhos,
E disse,
‘’Não’’

São Gonçalo, 2020.

Linda Como a Revolução

Eu queria saber escrever como Vinicius de Morais, pois apesar das pitadas de machismo, ele sabia escrever muito bem sobre mulheres estonteantes como você. Tento pensar em algum coisa para colocar nesse texto, mas admito que só vem Marx à minha mente ou então Lênin e Engels. Talvez seja um prenúncio, de que a revolução pelas mãos do povo é ainda mais fácil que não me intimidar com tudo que você é. Pois além de ser livre e independente, mulher, tu és mais linda que os relevos Rio de Janeiro, mais bela que o céu azul do inverno, mais apaixonante que uma tarde de verão. Eu queria saber escrever bonito, pois até agora não consegui mensurar o tanto que você é especial nesse torpe e pobre texto. Queria te falar que, os homens são a escória do mundo e que dentro de tantas mazelas e tristezas do capitalismo, te encontrar foi uma das melhores coisas que poderiam acontecer. 

- São Gonçalo, 2019

Contos de Fadas

Está escrito em minha testa,
trincado no espelho,
nos refrões de Caetano:
Estou apaixonado por você
E apesar de amor ser uma invenção,
uma proposição filosófica,
um tiro no escuro,
infelizmente está doendo aqui dentro

Fechando os olhos e voando
Por dentro de minha imaginação,
em meus pensamentos,
estamos de mão dadas 
Há um gramado que não é mato,
e o oceano tocando o horizonte

Feche os olhos comigo,
pegue minha mão
Contos de fadas existem,
posso te provar
E eles sempre terminam nas estrelas

São Gonçalo, 2019

Brasileiro, dos Bosques ás Praias

Deitei nas rochas porque estava frio
Pisei bastante na lama e não afundei,
Hoje até me perdi no bosque,
Mas não me assustei 

É chegada a hora de amar,
É chegada a hora de lembrar
Amar as histórias que tive,
Lembrar de momentos lindos
Lindos como uma cascata,
Tão raivosa e forte,
Ela gosta de gritar
Gritar às maravilhas de ser brasileiro!
De poder subir em morros e ainda ver,
A natureza visceral

Lá no fim da ribanceira,
Há uma cobra sussurrado:
"Ei, lembre de mim"
A água,
O céu,
A mata, 
Essas coisas rimam com liberdade

São Gonçalo, 2019

As Baixadas

Subi as baixadas litorâneas querendo viver,
Querendo deixar para trás as planícies e seguir a altitude até poder ver o além-mar
Quando o cume se mostrou somente uma pequena rocha, 
Meu coração palpitou pois ali era o limite
E quem não tem medo do fim? 
Quem não fica receoso quando não tem mais para onde ir?

Em pé me coloquei, abri os braços e senti o vento. As árvores lá ao fundo, as casas como formigas e estava lá meu coração novamente tremendo. Fechando os olhos e com meu âmago palpitando, sem barreiras, somente o vento e um medo voraz que nos dá algum significado em meio a uma existência tão vazia e decadente.

Subi as baixadas em busca de vida, em busca do medo e do significado de toda uma existência

São Gonçalo, 2020

Uma Divindade

O corpo de uma mulher é o produto divino mais perfeito, pois suas geometrias beiram a beleza constante e vibrante dos salões dourados de valhala. As suas curvas livres formam uma arte do mais intenso despudor, da mais livre poesia lírica. E sendo desbravado o corpo feminino mostra seu fervor, mostra sua auto suficiência e expressa a cada toque, a cada movimento, que é a máquina divina mais perfeita. 
O perfeito produto de uma evolução de bilhões de anos, a evolução da beleza humana pela paixão da humanidade. Paixão de amar observar um quadro que poucos ousam mudar, que muitos querem tocar todavia, são incapazes de compreender. As mulheres são lindas pois são mais autênticas, são mais vivas, são lindas pois exalam o que o corpo masculino não tem: sinceridade.

Niterói, 2017

terça-feira, 21 de abril de 2020

O Bem e o Mal

Deus existe? Não sei responder, mas reconhecer que o mesmo existe, é reconhecer que o bem existe. Se o bem existe, o mal também. Um dia me disseram que o lobo-mau existe, mas será que existe um lobo-bom? Ninguém nunca me falou sobre ele. 

Deus existe? Não sei responder, mas se Deus existe, a magia existe. O cosmo, o céu, a terra: tudo nada mais é, que a exclamação do divino. 

Deus existe? Não sei responder, mas a Pandemia existe. Se Deus existe, o bem existe. Se Deus existe, a magia existe. O lobo-mau pediria uma prova de amor? Pediria para alguém se arriscar em seu nome? Não. E Deus, pediria? Pediria para ignorar o óbvio, para arriscar vossas vidas e das pessoas que vocês amam? 

Por que não existe um lobo-bom? Por que Deus existe? 

São Gonçalo, 2020

O Sangue Estará em Suas Mãos

Acordei hoje, como acordei ontem
Acordei ontem, como acordei semana passada
Os dias estão passando apertados 
O desespero tá batendo,
E a tristeza acabou com sua trégua
Tenho medo,
E raiva 

Raiva de me sentir inútil,
Raiva de me sentir incapaz,
Raiva de sentir na pele os efeitos do sistema,
De me sentir um estranho em meu ‘’lar’’

Tenho medo pela minha cidade,
Pelos meus iguais,
Pela minha sanidade

É uma questão de tempo
O sangue estará nas mãos dos liberais,
Estará nas mãos dos que apertaram 17,
Estará nas mãos do presidente da república
Se não for o Covid, 
Será o pós pandemia

E deus, será mesmo brasileiro?
Veremos em breve

São Gonçalo, 2020

Tempos de Pandemia

É um tempo de sofrimento,
Dias de desespero,
Uma era de lágrimas
E tudo ainda nem começou 

Pensar no futuro machuca, 
Lembrar do passado entorpece,
E o presente é definhador

São Gonçalo, 2020

A Nostalgia

Tenho olhado tantas fotos, todas aquelas fotos lendárias, aquelas fotos de dias que marcaram. Feliz ou triste, difícil é perceber que nada é mais como antes e quase nada é como deveria ser. Em momentos complexos é fácil agarrar-se ao passado como uma tentativa de fuga, uma forma de não chorar compulsivamente todos os dias.

Mesmo a vida sendo tão corrida, o passado sempre encontra um jeito de voltar, é insistente e insaciável. Nunca da mesma forma, mas sempre seguindo o mesmo rumo, o rumo da nostalgia. E nesse momento de nuvens tão barrentas, de completa melancolia, é um tanto quanto difícil não rezar para que a realidade seja a realidade de outrora, uma realidade distorcida e mentirosa de memórias isoladas.

Contrariando a maré que inunda meu coração de lágrimas passadas, sei que o passado não é a realidade que eu quero, a realidade que salvaria tudo. Brigar por um novo futuro, resistir ao presente e caminhar para frente é o que ainda me mantém vivo no fim das contas. O mundo é um moinho e no fundo sabemos, que sonhos mesquinhos de um passado enganoso só nos levam a depressão.

São Gonçalo, 2020

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Novos Dias de Um Novo Mundo

Acorde-me quando estivermos sobre nuvens, adentrando os novos dias de um novo mundo. Acorde-me quando estivermos pisando sobre as lavandas, quando o arco-íris chegar. Acorde-me somente quando o sol bater na janela, quando a chuva ácida acabar.

Estou cansado de sangue, estou cansado de exploração e injustiça. Estou cansado de perseguição, de lágrimas e de um sistema excludente. Estou cansado de ser marginal, estou cansado de você, capital.

O capital que não é páreo para uma gripezinha, o capital que massacra e extorque aos meus camaradas e a mim. A sua hora está chegando, em breve acordaremos em um dia de sol novamente, em breve a sua derrocada será inevitável.

São Gonçalo, 2020

Os Primeiros Dias

O primeiro amor. Foi intenso. Foram dias de suor, dias de colocar o pé para fora e aproveitar uma história de clichê adolescente. Dançando, cantando, amando e é claro, brigando. Sem pensar, somente agindo, vivendo. Com canções sobre estrelas e tudo que isso envolve, aventuras narradas pela minha mente até hoje, quando penso em algo feliz. Eram dias de correria, de nervos a flor da pele. Dias em que ficava claro o motivo de o amor ser tão envolvente, tão estupidamente supervalorizado. Não bastavam as pequenas coisas, os pequenos gestos, porque tudo era novo e grande, tudo era potente e levava a loucura. Foram dias memoráveis, pois foram os primeiros dias e os primeiros a gente nunca esquece.


Pois a inocência ainda existia, a pureza e a leveza de ainda não possuir traumas tão grandes (os que te consomem todas as vezes que uma nova história começa).O fim trágico chegou e com ele a intensa tristeza, como tudo nas primeiras vezes.


Aquelas primeiras aventuras foram intensas, como a vida deveria ser. 


  • São Gonçalo, 2020. 

Um Sonho de Realidade

É um sonho ruim. É um sonho ruim estar sendo colocado para fora do comodismo. É um sonho ruim estar sendo forçado a dar cara a tapa. É um sonho ruim estar vivendo um período histórico em que ler não basta. É um sonho ruim em breve ter que ir a práxis ou a morte. É um sonho ruim ver o país se despedaçando. É um sonho ruim ter sido logo na nossa vez. É um sonho ruim ter que viver um processo histórico sangrento. É um sonho ruim em breve ter que morrer pelo óbvio. É um sonho ruim, é um sonho péssimo, eles estão na esquina, eles vão atacar.
É uma realidade catastrófica, eles tem a milícia, eles tem deus. É uma realidade catastrófica o capital financeiro é deles. É uma realidade catastrófica, tem gente que ainda acredita que o barbudo salvará todos no final. É uma realidade catastrófica, tenho medo, estamos em desvantagem. É uma realidade catastrófica, é uma realidade desesperadora

- São Gonçalo, 2020

Uma Vez


Um vez, me apaixonei. Um dia abri meus olhos, vi aquele rosto e só consegui sentir uma sensação que me fazia engasgar. A cada encontro, esbarrão, conversa, era uma loucura. Era uma intimidação natural que meu corpo sentia, ficava estático ao falar com uma pessoa tão insuportavelmente apaixonante. Os dias foram passando e as viagens foram aumentando, adentrando a madrugada e transcendendo a barreira da realidade. De fato nunca entendi o porquê ela parecia se importar tanto comigo, nunca entendi o porquê dela me entender tão bem, porém nunca me perguntei se um dia já consegui entendê-la. Os meses foram passando, brigas aconteceram, até com outros eu a vi. Creio que poucas coisas em toda a minha vida foram tão dolorosas, porém acho que ela não reparou. E a devo culpar? Não.

Ela voltou, sempre volta de alguma forma. Meu cometa que toda vez que vai embora eu sei que irá voltar. Foi uma explosão, foi como se deus tivesse dito a mim que era a hora de ser feliz novamente. Tardes memoráveis, dias fantásticos e discussões que marcaram.

De novo a vi partir e voltar. Se passam anos da primeira vez que a vi, da primeira vez que me apaixonei por aquele jeito insuportavelmente maravilhoso. Eu não sei o motivo, não sei qual é o plano mirabolante dos EUA, mas ainda penso. Ainda penso nos porquês, ainda me engasgo quando a vejo, ainda fico perdido todas vezes que escuto aquela voz.

Uma vez me apaixonei, abri meus olhos e vi você.

- São Gonçalo, 2020




Um Caminho Para o Oz

Eu queria um poema azul, pois estamos chegando no Oz. As portas do inferno estão se abrindo, mas devemos nos lembrar do arco-íris neste momento. Mesmo com o desespero batendo a porta, precisamos lembrar do que nos trouxe até aqui e o que nos levará a vitória.

Eu queria escrever um texto encorajador ou ao menos feliz, mas desculpa, talvez nesse momento seja impossível. Eu queria saber escrever. Eu queria acreditar que o golpe não está próximo, queria ter alguma esperança em uma saída para além das fronteiras do arco-íris.

Porém hoje eu não consigo alcançar o Oz, só consigo ver o Kansas em chamas na minha frente.

  • São Gonçalo, 2020

Senhor Covid-19


É hora de fechar as janelas e pensar no revide, de xingar ao invés de explicar. É tempo de pisar para fora e não se deixar abalar, de resistir e lutar. A pandemia? Não vai nos pegar, o diabo chegará antes.

São as paredes, elas sussurram a noite inteira. Não me deixaram dormir, elas têm medo assim como eu. Medo do que está por vir, do que pode acontecer logo de manhã. Talvez seja a quarentena acabando com a meu psicológico ou então a luta esteja realmente próxima.

Desculpe, por favor, volte amanhã senhora Covid-19. Estamos ocupados com outros grandes problemas e não temos tempo pra você

- São Gonçalo, 2020

Não ao Cristo

 Não tirei foto do cristo, porque ele não merece, pois além de ser capitalista, é um símbolo de toda uma falsa esperança: a falsa esperança de que alguém abraça os periféricos cariocas. 

Entre as sinuosidades dos relevos pueris cariocas, os carros gritam com seus pneus carecas e motores queimando. É a ópera de uma cidade prestes a se colapsar, de um sistema insustentável que um dia destruirá por completo o verdadeiro Rio de Janeiro. 

O rio das matas, dos rios, dos relevos maravilhosos e do mar infinito. Com certeza todas as vezes que subir o corcovado, não tirarei fotos do cristo, que não abraça ninguém além da segregação. Sempre irei focar no horizonte que os ventos fluminenses hei de me levar.

São Gonçalo, 2019

O Filho da BR

Sou filho da BR 
Da rapidez, 
Da pressa,
Da velocidade
Da baía,
Do Sol,
Do Asfalto,
E do vento

Estou voltando para casa,
Lá ainda há a passarela,
Lá de cima ainda me sinto infinito

Ainda sou filho da BR,
Ainda sou filho da velocidade,
Do sol,
Da baía,
E do asfalto

  • São Gonçalo, 2019.

Ensaios Sobre Hoje

Eu queria escrever sobre hoje
Pois subir picos,
Olhar mares,
E desbravar florestas,
Me inspira
Eu queria escrever sobre hoje
Pois acordar cedo,
Pegar um ônibus,
E viver,
Merece ser escrito 
Eu queria escrever sobre hoje,
Pois olhar a fundo o infinito da minha alma,
É algo importante 

Eu queria escrever sobre hoje,
Mas não consigo,
Porque nada feliz tenho escrito

  • São Gonçalo, 2019. 

A Miséria do Capital

A miséria da filosofia é não reconhecer o devido valor das coisas, 
não conseguir definir o que há de importante em nossas vidas
O possuir é super valorizado, o viver é subvalorizado
Subvalorizado para o proletário
Quanto vale uma vida de trabalho?
com certeza mais que um salário mínimo e um sodexo

Há quem diga ‘’todo mundo quer ser rico’’,
Não acredito que todos queiram explorar,
massacrar, diminuir seus semelhantes

Vivemos buscando inimigos,
desenhando no chão um caminho meritocrático falso,
que nos frustra,
que nos deprime

E por que?
Para que?
Para quem?

O sistema capitalista é a miséria da filosofia,
Os restos do aborto de um sistema socioeconômico

  • São Gonçalo, 2020