domingo, 30 de junho de 2024

Somente um Texto

 Queria contar algumas histórias boas, algumas histórias sem metáforas e reflexões. Queria escrever sobre momentos perfeitos, de um dia perfeito. (Mesmo a perfeição não existindo, foi quase lá, vai, faltou pouco). Queria dizer, de verdade, coisas bonitas sobre um dia bonito. Queria explanar toda minha paixão, por essa nova fase da minha vida. 

Um domingo de sol no Rio de Janeiro e o céu sem nenhuma nuvem. Não era fevereiro, mas teve Flamengo. Não foi só quando a bola saiu da marca do pênalti, tocou os pés do goleiro batido no chão e entrou no gol, que senti todo meu corpo vibrar. 

Vibrei também quando acordei de manhã e olhei um alvorecer rosa, refletindo toda a crueza do Salgueiro em uma cor violeta que por um momento fez parecer um lugar de paz. Vibrei quando pude dizer pela manhã que ia comprar tudo para o café, compartilhando aquele momento pequeno de vitória com minha pessoa favorita. 

Quando passei pela roleta do ônibus senti que o dia seria especial, na fração de segundo que me deparei com aquele verde visceral que pulsava daqueles olhos, de uma forma sutil, toda vez que eu os observava. Vibrei com os sorrisos, com as conversas, com os olhares, abraços e com aquela companhia. 

O juiz apitou pela última vez, Flamengo 1-0. Fiquei feliz ao perceber que o dia estava longe do fim, que minha vida está longe do fim. Já disse muito, talvez tenha falado demais, mas tudo que veio depois não tem como ser mensurado em frases, me debulhei em algo completamente inefável. Além de tudo, vi uma maravilha vestindo outra maravilha, inesquecível. 

Não era fevereiro, era junho. Teve Flamengo, teve beleza, paz e até mesmo, algumas metáforas. É difícil contar uma história boa, ainda mais difícil contar uma história sobre um dia onde não houveram lágrimas. Mas às vezes um texto tem que ser exatamente, só um texto. Nem sempre as coisas precisam de drama ou metáforas, às vezes a felicidade basta.  

Rio de Janeiro, 2024


sábado, 15 de junho de 2024

Abracei a Crônica

 É verdade, abracei a crônica. Por ser mais simples, vulgar e menos exigente. Falar sobre o que está ao meu alcance parece tão mais confortável, falar sobre o cotidiano voraz dessas pseudo-metrópoles que passo os dias pisando em cima. Poder escrever sobre estar sozinho no meio dessa confusão metropolitana de mais de 16 milhões de pessoas. Falar sobre a morte, mas principalmente sobre a vida, sobre memória e amor. 

Para o povo, o que nos resta depois dos 7 palmos de terra, é a memória. Memória do que é a nossa história, memória das lutas e das dificuldades, das soluções e da coletividade, do nosso propósito nessa sociedade doente, de toda a nossa trajetória e a trajetória dos que tombaram nessa estrada. 

O que fica é o amor, os causos e aquelas velhas picuinhas que foram levadas até mesmo ao túmulo. Aquele dia em que passamos do limite, que houveram xingamentos e talvez um dedo na cara. O dia das palavras feias que agora ficaram ainda mais feias e também aqueles dias dos perdões, das falas preocupadas, dos momentos de êxtase e fascínio. 

Às vezes a saudade bate, mas não temos tempo pra isso. Às vezes surge uma falta, uma tristeza repentina, mas se isso não existisse, que significado teriam as nossas vidas e tampouco as nossas mortes? Nós caminhamos, lutamos e construímos: somos produtos e partes de todo um desenvolvimento sócio-histórico que perdura séculos, estamos desde o primeiro segundo de vida caminhando para o fim. Fim que pode até chegar para nossos corpos físicos, mas que irão sempre, sucessivamente, estarem dando inícios a tantos outros inícios. 

Não tenho medo da morte, nem do luto. Tenho medo daquelas regras gramaticais, daqueles poemas em versos, da sensação de estar perdido e sozinho em meio a 16 milhões de pessoas. 

São Gonçalo, 2024


sexta-feira, 7 de junho de 2024

Novo Tempo

Não tenho o que dizer sobre o sabor doce que ficou em minha boca durante esse início de outono, que tem parecido uma continuação do verão que não quis se despedir. O calor que tem massacrado, também tem sido testemunha de momentos tão surpreendentes que minha cabeça mal consegue processar. Tenho sentido em meus dedos um frescor tão doce, um sentimento em meu peito que pulsa esperança com tantos novos caminhos que tem se apresentado, momentos que tenho a absoluta certeza que serão lembrados no futuro como pontos de virada. 

Sabe, dizer que o mar é azul é redundante, mas o oceano atlântico, é realmente azul. Nem mesmo aquelas ondas tão bravas quebrando em cima daquele velho píer de madeira conseguem causar espanto, ou medo. O vento que tanto causa frio anuncia em uma sintonia muito baixa, que este é um novo tempo. 

Rio das Ostras, 2024

Nunca pertenci a vocês

Tenho um sentimento estranho no peito e não é de certo só felicidade, estou com muita dificuldade de entender. Gostaria de dizer: “Um abraço...