sábado, 15 de junho de 2024

Abracei a Crônica

 É verdade, abracei a crônica. Por ser mais simples, vulgar e menos exigente. Falar sobre o que está ao meu alcance parece tão mais confortável, falar sobre o cotidiano voraz dessas pseudo-metrópoles que passo os dias pisando em cima. Poder escrever sobre estar sozinho no meio dessa confusão metropolitana de mais de 16 milhões de pessoas. Falar sobre a morte, mas principalmente sobre a vida, sobre memória e amor. 

Para o povo, o que nos resta depois dos 7 palmos de terra, é a memória. Memória do que é a nossa história, memória das lutas e das dificuldades, das soluções e da coletividade, do nosso propósito nessa sociedade doente, de toda a nossa trajetória e a trajetória dos que tombaram nessa estrada. 

O que fica é o amor, os causos e aquelas velhas picuinhas que foram levadas até mesmo ao túmulo. Aquele dia em que passamos do limite, que houveram xingamentos e talvez um dedo na cara. O dia das palavras feias que agora ficaram ainda mais feias e também aqueles dias dos perdões, das falas preocupadas, dos momentos de êxtase e fascínio. 

Às vezes a saudade bate, mas não temos tempo pra isso. Às vezes surge uma falta, uma tristeza repentina, mas se isso não existisse, que significado teriam as nossas vidas e tampouco as nossas mortes? Nós caminhamos, lutamos e construímos: somos produtos e partes de todo um desenvolvimento sócio-histórico que perdura séculos, estamos desde o primeiro segundo de vida caminhando para o fim. Fim que pode até chegar para nossos corpos físicos, mas que irão sempre, sucessivamente, estarem dando inícios a tantos outros inícios. 

Não tenho medo da morte, nem do luto. Tenho medo daquelas regras gramaticais, daqueles poemas em versos, da sensação de estar perdido e sozinho em meio a 16 milhões de pessoas. 

São Gonçalo, 2024


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nunca pertenci a vocês

Tenho um sentimento estranho no peito e não é de certo só felicidade, estou com muita dificuldade de entender. Gostaria de dizer: “Um abraço...