segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Adeus, Ano Novo

 É difícil dizer adeus a um ano novo, mas nessas últimas semanas do ano, a despedida é inevitável. A vida tem dessas idas e vindas, e de uma forma muito clichê, afirmo essa afirmação tão afirmada mais uma vez. Esse foi de fato um ano de idas e vindas, de recomeços e novos caminhos, de esperança e empolgação, das correntes que se soltaram e de barulho nas margens. 

É difícil dizer adeus a um ano novo, porque o ardor do novo queima com gosto de réveillon. Esse ano pareceu que toda semana era uma virada diferente, a cada semana uma nova explosão, tempos de efervescência e de borboletas.

Não é que todas essas viradas foram fáceis, mas o que é fácil para o povo? A própria vida na terra, por exemplo: Quantas particularidades foram necessárias? Quantas contradições e inconsistências? Processos tão irregulares, entre séculos e séculos de existência, para chegar onde estamos.

Para viver no mundo real, é necessário não ser um covarde agarrado a velhas convenções, a velhas ideias e análises. Pois a contradição da matéria é infinita em sua finitude, não dá para fugir dela, é inútil vedar os olhos e ouvidos com medo. Pois a verdade não combina com a ignorância, nem mesmo a História gentil com ratos. 

Estou me despedindo. Desse ano novo, desse tempo gostoso, olhando para trás e tendo orgulho de que, sobretudo, é a vida real, e não a ideal, a que vivo. Pois é nela que reside a verdade, a beleza, e no frigir dos ovos, a verdadeira felicidade. Não a idealizada, a proletária. 

Adeus ano novo, o próximo já está a caminho. 

São Gonçalo, 2024



domingo, 4 de agosto de 2024

Sobre Pedrinhas e Dias Ensolarados

Sinto-me no dever de dizer, 

que sem nenhuma miséria ou tristeza, 

acordei em um sonho de outono


Com um gosto doce que ficou em minha boca, 

senti o frescor da juventude em meu peito,

e a brisa leve da Praia das Pedrinhas 

Confesso que estou um pouco febril,

me permiti a tranquilidade,

o recomeço,

dias ensolarados pelos sorrisos 


Mergulhei naqueles verdes tão lindos,

naveguei em águas desconhecidas,

e nem mesmo as pequenas chuvas me assustaram,

meu caíco agora tem motor


Nunca fui Weberiano, 

porque o material é muito mais visceral

De que importa os tipos ideais, 

se é o toque que nos arrepia? 

Se o concreto é que tudo que existe, 

se a vida está a todo momento mudando,

se a felicidade está em poder viver o real?


Para o inferno os planos perfeitos, 

e a tristeza 


Eu escolho a Praia das Pedrinhas,

a contradição da matéria,

os dias ensolarados pelos sorrisos,

a vida em sua constante inconstância 


São Gonçalo, 2024


domingo, 30 de junho de 2024

Somente um Texto

 Queria contar algumas histórias boas, algumas histórias sem metáforas e reflexões. Queria escrever sobre momentos perfeitos, de um dia perfeito. (Mesmo a perfeição não existindo, foi quase lá, vai, faltou pouco). Queria dizer, de verdade, coisas bonitas sobre um dia bonito. Queria explanar toda minha paixão, por essa nova fase da minha vida. 

Um domingo de sol no Rio de Janeiro e o céu sem nenhuma nuvem. Não era fevereiro, mas teve Flamengo. Não foi só quando a bola saiu da marca do pênalti, tocou os pés do goleiro batido no chão e entrou no gol, que senti todo meu corpo vibrar. 

Vibrei também quando acordei de manhã e olhei um alvorecer rosa, refletindo toda a crueza do Salgueiro em uma cor violeta que por um momento fez parecer um lugar de paz. Vibrei quando pude dizer pela manhã que ia comprar tudo para o café, compartilhando aquele momento pequeno de vitória com minha pessoa favorita. 

Quando passei pela roleta do ônibus senti que o dia seria especial, na fração de segundo que me deparei com aquele verde visceral que pulsava daqueles olhos, de uma forma sutil, toda vez que eu os observava. Vibrei com os sorrisos, com as conversas, com os olhares, abraços e com aquela companhia. 

O juiz apitou pela última vez, Flamengo 1-0. Fiquei feliz ao perceber que o dia estava longe do fim, que minha vida está longe do fim. Já disse muito, talvez tenha falado demais, mas tudo que veio depois não tem como ser mensurado em frases, me debulhei em algo completamente inefável. Além de tudo, vi uma maravilha vestindo outra maravilha, inesquecível. 

Não era fevereiro, era junho. Teve Flamengo, teve beleza, paz e até mesmo, algumas metáforas. É difícil contar uma história boa, ainda mais difícil contar uma história sobre um dia onde não houveram lágrimas. Mas às vezes um texto tem que ser exatamente, só um texto. Nem sempre as coisas precisam de drama ou metáforas, às vezes a felicidade basta.  

Rio de Janeiro, 2024


sábado, 15 de junho de 2024

Abracei a Crônica

 É verdade, abracei a crônica. Por ser mais simples, vulgar e menos exigente. Falar sobre o que está ao meu alcance parece tão mais confortável, falar sobre o cotidiano voraz dessas pseudo-metrópoles que passo os dias pisando em cima. Poder escrever sobre estar sozinho no meio dessa confusão metropolitana de mais de 16 milhões de pessoas. Falar sobre a morte, mas principalmente sobre a vida, sobre memória e amor. 

Para o povo, o que nos resta depois dos 7 palmos de terra, é a memória. Memória do que é a nossa história, memória das lutas e das dificuldades, das soluções e da coletividade, do nosso propósito nessa sociedade doente, de toda a nossa trajetória e a trajetória dos que tombaram nessa estrada. 

O que fica é o amor, os causos e aquelas velhas picuinhas que foram levadas até mesmo ao túmulo. Aquele dia em que passamos do limite, que houveram xingamentos e talvez um dedo na cara. O dia das palavras feias que agora ficaram ainda mais feias e também aqueles dias dos perdões, das falas preocupadas, dos momentos de êxtase e fascínio. 

Às vezes a saudade bate, mas não temos tempo pra isso. Às vezes surge uma falta, uma tristeza repentina, mas se isso não existisse, que significado teriam as nossas vidas e tampouco as nossas mortes? Nós caminhamos, lutamos e construímos: somos produtos e partes de todo um desenvolvimento sócio-histórico que perdura séculos, estamos desde o primeiro segundo de vida caminhando para o fim. Fim que pode até chegar para nossos corpos físicos, mas que irão sempre, sucessivamente, estarem dando inícios a tantos outros inícios. 

Não tenho medo da morte, nem do luto. Tenho medo daquelas regras gramaticais, daqueles poemas em versos, da sensação de estar perdido e sozinho em meio a 16 milhões de pessoas. 

São Gonçalo, 2024


sexta-feira, 7 de junho de 2024

Novo Tempo

Não tenho o que dizer sobre o sabor doce que ficou em minha boca durante esse início de outono, que tem parecido uma continuação do verão que não quis se despedir. O calor que tem massacrado, também tem sido testemunha de momentos tão surpreendentes que minha cabeça mal consegue processar. Tenho sentido em meus dedos um frescor tão doce, um sentimento em meu peito que pulsa esperança com tantos novos caminhos que tem se apresentado, momentos que tenho a absoluta certeza que serão lembrados no futuro como pontos de virada. 

Sabe, dizer que o mar é azul é redundante, mas o oceano atlântico, é realmente azul. Nem mesmo aquelas ondas tão bravas quebrando em cima daquele velho píer de madeira conseguem causar espanto, ou medo. O vento que tanto causa frio anuncia em uma sintonia muito baixa, que este é um novo tempo. 

Rio das Ostras, 2024

domingo, 19 de maio de 2024

Dias de Outono


Gostaria muito de escrever sobre esses tempos, mas faltam-me ideias. Faltam-me as ideias e faltam-me também as palavras, pois a felicidade às vezes é estranhamente inacreditável. 

É um medo que consome sem muita explicação mas com muita justificação, que devora o fígado, mas principalmente o pulmão. Sou um homem do Pontal, lá o vento quando muda de direção é sinal de tempestade. Se bem que nessas tardes de outono, que parecem mais de verão, as nuvens simplesmente sumiram. 

É um momento de deixar os velhos tempos para trás, de sentir na pele mais mudança, aceitar as gotas de suor e não temer todos os trovões dessa nova etapa, não temer nem mesmo os campos verdes tranquilos que se apresentam ao final da caminhada. 

São Gonçalo, 2024



 


quinta-feira, 2 de maio de 2024

As Borboletas

Dizem que as borboletas são sinais de mudança e de todas as crendices populares é uma das que mais gosto. Pois as borboletas são graciosas, alegres: verdadeiras alegorias de como a vida é curta e que todo dia é dia de viver. 

Tem sido um tempo de borboletas. São tantas lutas travadas que acaba sendo difícil comemorar, difícil saber a hora que podemos respirar fundo e somente olhar o horizonte de forma calma e pausada, sem desespero ou receio. De peito aberto ao vento, esperando a vida acontecer. 

Viver deste lado da cerca é lutar a todo momento e o que podemos fazer em meio às tormentas que mudam tudo de lugar, é entender sempre em qual lado estão as borboletas e não ter medo de voar em meio a elas. Abrir o peito para o novo, com paixão e tesão pelo frescor da alvorada. 

São Gonçalo, 2024

Um Dia Normal

 O sabor de ter um dia normal é como se deleitar em uma sintonia tão robusta de paz, de adentrar um ritmo tão leve que evoca os sentimentos mais ínfimos e pequenos. Aquele momento em que podemos fechar os olhos e bocejar bem fundo, sem medo do julgamento, sem qualquer peso. 

Tem dias que o complicado nos atormenta tanto, que o simples parece o que temos mais de precioso. Queria escrever hoje sobre um dia normal, um dia bom, daqueles que a gente lembra no calendário e que não aconteceu absolutamente nada grandioso ou planejado, que o que aconteceu foi simplesmente a vida caminhando em um caminho bem conhecido e até de certo modo clichê, mas que de fato foi um dia de olhar para dentro e poder respirar o mais profundamente possível e dizer:

 “Hoje não fui a história triste de sempre”. 

São Gonçalo, 2024




segunda-feira, 22 de abril de 2024

Ventos de Primavera

Tem soprado um vento de primavera para este lado da Baía. Mesmo que tímido, tem entrado e bagunçado de forma avassaladora essa temporada, tem sido tempo de uma ansiedade benigna, de ver diante dos meus olhos desconfiados as coisas entrando onde realmente deveriam estar. 

Tenho muitos medos e muitos deles não são tão justificáveis, confesso. Pode até parecer um pouco estranho, mas tenho um medo profundo da BR à noite. Depois das 22hrs, olhar para aquele mar e só ver refletido a lua em suas pequeninas ondas me dá medo. Sentir a cada passada de carreta, tão perto, uma sensação de pequeneza profunda, de uma insignificância retumbante diante daquela estrada que tem vida, é desesperador. O mais curioso é que ao mesmo tempo o impulso que vem diante de meu coração é de seguir cada vez mais rápido, de pedalar cada vez mais forte, pois estou vivo. Vivo diante daquelas carretas tão grandes, vivo em cima de toda aquela rodovia que grita e aterroriza, pedalando por cima das humilhações, das cátedras, da depressão, das velhas formas de vida. Mesmo em meio ao terror a bicicleta gira e o tesão toma conta, tenho uma queda pelo susto, um pacto com o terror da BR-101.  

Esse mês senti o vento da primavera soprar para esse lado da Baía de Guanabara, confesso que enquanto pedalava olhando o mar e a lua em meio a escuridão completa da BR, chorei. Um choro de primavera, um choro de mudança, um choro com gosto de vida. 

São Gonçalo, 2024 


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Lógica das Marés

Definitivamente não sei escrever. Porém pensei aqui comigo que falar sobre os meus sombrios sonhos desta quinta-feira não deve ser mais difícil do que entender esse vai e vem das marés da Baía de Guanabara. Ontem elas estavam tão altas pela manhã que por um momento pensei que fossem invadir a rua. Porém hoje estavam tão baixas que um cheiro de morte entrou forte em meus pulmões, me fazendo sentir uma vontade muito profunda e genuína de vomitar. 

Eu costumo sonhar com a Baía de Guanabara. Essa semana mesmo sonhei que estava navegando no meu caíco para a ilha de Jurubaiba. Eu e o mar, o sol e a maré.  Infelizmente uma voz lá do fundo me acordou e logo senti amargamente aquele cheiro de morte que estava por todo lugar, não saiu do quarto por nenhum segundo naquele dia. 

Tenho sonhos sombrios sobre mangues. Sobre mangues de lama espessa, aqueles que conseguem engolir histórias, que conseguem limpar até a mais poluída água que passa por ali. 

Hoje é quinta-feira. Tive um sonho desses. Sonhei que estava andando na Ary Parreiras e de repente todo aquele valão fedorento virava um mangue e me engolia, tentei lutar, mas de que adianta? A maré estava mais forte. A maré sempre é mais forte e aquele cheiro de morte estava por todo lado. 

Eu gostaria de entender a lógica das marés, não sei porque precisam ser tão fortes em dias tão normais como esse e tão devastadores nos dias mais sombrios. Na baixa e na alta, nunca vai embora, está sempre na espreita pronto para engolir braços, pernas e histórias. 

São Gonçalo, 2024



Nunca pertenci a vocês

Tenho um sentimento estranho no peito e não é de certo só felicidade, estou com muita dificuldade de entender. Gostaria de dizer: “Um abraço...